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Crise Corona: um despertar para negócios sustentáveis e responsáveis


Já estávamos nos adaptando, vagarosamente, a um futuro sustentável. Mas o choque causado pelo novo coronavírus está deixando a vulnerabilidade das nossas economias ainda mais clara. Cadeias de suprimento foram interrompidas, o crescimento econômico parou e a população mais pobre está sofrendo as mais agudas consequências. A recuperação levará tempo e não será fácil, mas esta crise traz consigo uma oportunidade de mudança e nos faz responsáveis por reconstruirmos O QUÊ? melhor, de forma verde e sustentável.

É evidente que o crescimento responsável e sustentável é a única via à frente. Ora, se estamos discutindo o desmatamento e as suas consequências na natureza e agricultura ou a corrida para os mais baixos custos de produção e as rendas insuficientes para trabalhadores, a sustentabilidade destas práticas não é, ou logo não mais será, justificável.

Economia verde, sustentável e circular

A mudança climática é um dos maiores desafios da sociedade. Mudanças no clima podem ter efeitos devastadores para o ambiente, pessoas, sociedades e negócios. Infelizmente, a adaptação climática para evitarmos o pior não é mais uma simples opção, é uma necessidade. Temos que fazer a maré virar para prevenirmos danos irreversíveis à natureza, à biodiversidade, aos ecossistemas e, eventualmente, às nossas economias. Lutar contra a mudança climática, no entanto, não é algo que um país ou uma empresa possa fazer sozinho. Temos que dar as mãos e trabalhar juntos: governos nacionais e locais, cidadãos, empresas, instituições de pesquisa e ensino e organizações não governamentais (ONGs).

Os Países Baixos se comprometeram com o Acordo de Paris e irá — junto a outros 26 membros da União Europeia — reduzir suas emissões de CO₂ em 49% até 2030 (em comparação com as emissões de 1990). Além disso, o objetivo dos Países Baixos é de reduzir suas emissões em 95% até 2050. Isso requer uma mudança drástica no estilo de vida, alimentação, trabalho, turismo e consumo. As cadeias de suprimento terão de se transformar para serem mais sustentáveis e o uso de recursos naturais terá de ser mais inteligente. De fato, nossa economia terá de ser circular.

Há um ano o governo holandês apresentou um novo acordo nacional do clima, que apresenta as medidas que os Países Baixos adotarão para atingir os objetivos até 2030. Este acordo é o resultado final de um processo de consultas com, entre outros, representantes da iniciativa privada, governos locais e organizações não governamentais. Embora as negociações tenham se prolongado por um ano e meio, este processo, que leva múltiplas opiniões em consideração, assegura o comprometimento das diferentes partes envolvidas. A base de apoio para este acordo é, portanto, ampla e forte, algo essencial para essas políticas que têm um efeito tão grande na sociedade.

Para cada setor participante — elétrico, industrial, ambiente construído, tráfego e transporte e agricultura —, grupos de partes interessadas se formaram para identificar medidas que podem reduzir as emissões de CO₂ em, pelo menos, 49%, com uma distribuição equitativa de custos. As medidas vão desde a introdução de tarifas para emissão de CO₂ por grandes empresas, até o fechamento das usinas termoelétricas a carvão; e de investimentos em florestas e na natureza a subsídios para cidadãos investirem em sustentabilidade em suas casas.

A estimativa do governo holandês é de que os custos totais desta mudança sejam de menos de 0,5% do PIB em 2030, uma conta viável para a socie-

dade. A parte importante disso, no entanto, é a descoberta das oportunidades que essa transição oferece, apesar dos custos. A mudança para uma economia sustentável dependerá de inovação, criatividade e tecnologia, que criarão novos tipos de empregos. O conhecimento que os Países Baixos ganharão durante o processo poderá talvez ser usado em outros países.

Já vemos muitos exemplos de empresas mais sustentáveis e que se mantêm lucrativas. Veja, por exemplo, a ReNature, uma jovem empresa social. Fundada por um brasileiro, a ReNature é uma empresa holandesa que pretende restaurar a natureza através de sistemas agroflorestais regenerativos, uma prática de agricultura sustentável. Uma alternativa interessante para as tradicionais monoculturas que contribui para a segurança alimentar, resiliência econômica, biodiversidade e preservação de florestas.

A mudança para uma economia circular é outra peça-chave para um futuro sustentável. Em junho deste ano, 50 líderes globais comprometeram-se com a Economia Circular: uma solução para reconstruir melhor. Essa impressionante lista inclui, entre outros, o Secretário das Relações Internacionais do Município de São Paulo, Luiz Alvaro Salles Agular de Menezes, e a Ministra do Meio Ambiente dos Países Baixos, Stientje van Veldhoven. Os Países Baixos almejam ser completamente circulares até 2050 e alguns setores já estão obtendo resultados significativos. O têxtil é um deles.

Empresas, instituições de ensino e pesquisa e organizações não governamentais trabalham juntas para reduzir e reciclar resíduos têxteis, além de promoverem a produção sustentável


Negócios Responsáveis

Mudar por um futuro sustentável não é somente agir em relação ao meio ambiente e ao clima. É também sobre as empresas assumirem a responsabilidade de fazer o bem para as pessoas e para a sociedade. Ou, no mínimo, não causar danos.

O mundo ainda testemunha, infelizmente, práticas de trabalho forçado contra adultos e até crianças; submetidos a decisões unilaterais que obrigam o deslocamento de comunidades inteiras; ou casos de corrupção que envolvem oficiais do governo. Mas, felizmente, os tempos estão mudando. Há cada vez mais atenção para a Conduta Empresarial Responsável, adotada tanto pelas partes interessadas e bancos, quanto por consumidores e colaboradores.

As pessoas têm orgulho em trabalhar para uma empresa que adota princípios consistentes e assume a responsabilidade!

Conduta Empresarial Responsável não é somente o que a empresa faz com seus lucros (como por exemplo fazendo doações), mas é como este lucro é atingido. Existe um risco de que as atividades da empresa, ou daqueles em sua cadeia de suprimentos, tenham efeitos negativos em pessoas, sociedade ou meio ambiente?

Como esses riscos podem ser reduzidos? Isso requer boa devida diligência nas atividades da empresa.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) tem diretrizes sobre Conduta Empresarial Responsável para empresas multinacionais. Como parte das políticas de negócios responsáveis, o governo holandês almeja incluir 90% de suas grandes empresas como praticantes dessas diretrizes até 2023. Quanto mais empresas agem de acordo com as diretrizes e submetem-se à devida diligência, mais o ambiente competitivo se padroniza. Condicionando essa práticas à participação em missões econômicas ou à obtenção de subsídios, por exemplo, os Países Baixos procuram estimular a adoção das diretrizes da OCDE pelas empresas.

Mas, assim como com as mudanças climáticas, uma empresa sozinha não consegue resolver os problemas de toda a sua cadeia de suprimentos. Mesmo sendo uma empresa dedicada, existem obstáculos que fogem ao controle, seja por conta da complexidade da cadeia de suprimentos, seja por serem questões institucionalizadas. Nos últimos anos, o governo holandês vem oferecendo suporte para aplicação de métodos que envolvam as empresas e todos as suas partes interessadas; associações comerciais, ministérios e ONGs.

Um acidente na fábrica Rana Plaza, Em Bangladesh, em 2013, evidenciou a urgência de se desenvolver um método que trouxesse à mesa todos os envolvidos. Mais de 1100 pessoas morreram naquela tragédia. Uma empresa de moda nos Países Baixos, longe de Bangladesh, não poderia ter previsto esse acidente. Mas, quando todos na cadeia juntam forças, a mudança é possível. O governo holandês convidou diversos membros da indústria têxtil, que formaram um grupo comprometido a identificar riscos em suas cadeias e a desenhar planos de melhorias com objetivos concretos dentro de três a cinco anos. Desde esse primeiro acordo com a indústria têxtil, nove outros setores industriais firmaram acordos parecidos.


Conforme cadeias de suprimento e de valor vão se tornando mais globais, a cooperação internacional se torna cada vez mais essencial para conter abusos. Os Países Baixos trabalham com muitos parceiros internacionais neste assunto, incluindo o Brasil, um dos 48 países que se comprometeram com as Diretrizes para Empresas Multinacionais da OCDE. No fim de 2019, nove empresas e organizações brasileiras como a Petrobrás, CNA e FIRJAN visitaram os Países Baixos para discutir negócios responsáveis. O programa foi um grande sucesso e contribuiu para um melhor entendimento de como empresas brasileiras e holandesas implementam Conduta Empresarial Responsável e como elas podem se fortalecer com trabalhos conjuntos.Conforme cadeias de suprimento e de valor vão se tornando mais globais, a cooperação internacional se torna cada vez mais essencial para conter abusos. Os Países Baixos trabalham com muitos parceiros internacionais neste assunto, incluindo o Brasil, um dos 48 países que se comprometeram com as Diretrizes para Empresas Multinacionais da OCDE. No fim de 2019, nove empresas e organizações brasileiras como a Petrobrás, CNA e FIRJAN visitaram os Países Baixos para discutir negócios responsáveis. O programa foi um grande sucesso e contribuiu para um melhor entendimento de como empresas brasileiras e holandesas implementam Conduta Empresarial Responsável e como elas podem se fortalecer com trabalhos conjuntos.

A implementação de práticas de Conduta Empresarial Responsável pode demandar investimentos, tanto em tempo quanto em dinheiro. Mas o benefícios são muitos: gera economia a longo prazo, aumenta o acesso a capital e ajuda a encontrar e reter talentos. E, também, ao manter práticas de devida diligência em suas atividades e cadeia de suprimentos, a empresa diminui riscos legais e de reputação.

Mesmo assim, não é somente a redução de riscos ou requerimentos mínimos: Conduta Empresarial Responsável pode estar também no centro do seu modelo de negócios! Chocado com os casos de trabalho forçado que ele encontrou na indústria de chocolate, o fundador do Tony’s Chocolonely decidiu fazer a mudança ele mesmo. Fundou então a primeira marca de chocolate “100% livre de trabalho escravo”, que se dedica à erradicação do trabalho infantil e do trabalho escravo, e ao salário justo para todos os produtores na cadeia de suprimentos do chocolate. Ao invés de ver trabalho escravo como um sim-


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