
Nos quatro em que servi como Embaixador de Portugal no Brasil, fui por diversas vezes abordado por brasileiros curiosos por conhecer um pouco mais de Portugal, país com o qual o Brasil partilha fortíssimos laços históricos. Assim é: a História une os nossos países e está gravada na nossa cultura identitária. Pelo passado comum, estaremos sempre ligados. Com maior ou menor intensidade, mas sempre ligados. Mas não é apenas de passado que é construída a nossa só lida relação. O nosso presente é particularmente rico e intenso. Em primeiro lugar, pelas pessoas, pois não há nada que aproxime mais dois países do que as pessoas. São cerca de 150.000 os brasileiros em Portugal e pelo menos sete vezes mais os portugueses e luso-descendentes registados no Brasil. Serão possivelmente muitos mais. Estes números expressam bem o fluxo humano existente, que nem mesmo nos momentos mais preocupantes da pandemia parou. São muitas as famílias que se dividem entre o Brasil e Portugal. Para não falar dos 15.000 estudantes brasileiros que escolheram as Universidades portuguesas para prosseguirem os seus estudos. Ou dos empresários, com negócios cá e lá, que muito fazem em prol do desenvolvimento económico de Portugal e do Brasil. Mas não ficamos por aqui. No ano passado, 1 milhão e 300.000 turistas brasileiros visitaram Portugal e redescobrindo um país moderno e competitivo. Quem vai, quer voltar. E leva consigo amigos e familiares. Existe, assim, uma ligação afetiva, mas também uma relação baseada no investimento pessoal e profissional, com comprovado retorno. Uma relação de descoberta e

Depois, há a língua e a cultura. A língua portuguesa que amamos, com os seus múltiplos sotaques. A língua da nossa vida, feita de encontros e reencontros, como dizia Vinícius de Morais. É uma língua viva, tanto mais rica quanto os países que a falam se apropriem dela, construindo a sua diversidade. A língua que consubstancia um inestimável valor estratégico cultural, económico e geopolítico. Fio que entretece a teia de ligações e que aproxima Portugal e o Brasil e toda a família da CPLP. A língua que é também música, literatura, teatro e cinema. E ainda as telenovelas, que marcaram gerações de portugueses. Para não falar de momentos como o da vitória, o ano passado, na Copa dos Libertadores, de um clube carioca cujo treinador era português. De entre as inúmeras ações em que participei ativamente na área cultural, valerá a pena realçar o ciclo comemorativo do bicentenário da independência do Brasil, iniciado em 2018 e que culminará em 2022, com um amplo e diversificado conjunto de atividades e iniciativas desenvolvidas em estreita articulação com entidades públicas e privadas brasileiras. Por fim, também a economia. Não é por acaso que o número de Câmaras portuguesas de Comércio tem vindo a crescer. Só durante o meu mandato aumentaram de 13, para 18. As nossas relações tradicionais têm-se baseado, essencialmente, nos produtos agrícolas, como o vinho e o azeite. Mas

a relação tem vindo a evoluir. Portugal tem sido olhado, com crescente interesse, como um bom destino para investidores brasileiros. Nomeadamente em novas áreas e setores económicos, fruto, também, da evolução do próprio mercado português. Com efeito, Portugal começa a colher os frutos dos investimentos feitos na educação, na formação especializada, investigação científica e tecnológica, em áreas tão diversificadas como a biotecnologia, têxteis técnicos, soluções de e-government, energias renováveis, entre outras. O atual ecossistema empresarial português e as políticas de incentivo do governo, tornaram Portugal num dos maiores hubs de tecnologia, inovação e empreendedorismo da Europa. Motivo porque muitos dos investimentos brasileiros procuram start ups portuguesa.
Ali encontram negócios inovadores, comprometidos com um desenvolvimento sustentável, que promovem uma frutuosa união entre as necessidades dos mercados e a excelência académica dos investigadores e cientistas portugueses, cujo talento é cada vez mais valorizado internacionalmente. E tanto falamos de microprocessadores, como de Indústria 4.0. Lembremos a Web Summit Lisboa, o maior evento tecnológico do mundo, que reuniu neste ano, em modo virtual, mais de cem mil participantes. A delegação do Brasil a este evento vem aumentando de ano para ano. Em 2019, foram mais de 3.500 participantes brasileiros. Mas mesmo em sectores mais tradicionais, como os têxteis, a moda, a arquitetura ou o design, o salto qualitativo foi enorme. Poucos saberão, por exemplo, que Portugal foi, em 2019, o maior fabricante de bicicletas da Europa. Os investidores brasileiros sentem-se atraídos pelo dinamismo, pela qualidade e credibilidade que encontram, mas também pela estabilidade política e económica do país. Sobretudo, sentem-se confortáveis em Portugal. Sentem-se em casa. Enfim, com uma herança partilhada, consubstanciada

numa cultura muito próxima, Portugal e o Brasil foram construindo um bom e sólido relacionamento, que se vai aprofundando e reforçando, sempre em busca da excelência, através de novas áreas de cooperação e do reforço de projetos antigos. É uma relação que vale bem o investimento, que tem provas dadas e beneficia ambos os países. Só temos a ganhar em continuar Não poderia, afinal, ser de outra maneira entre países e povos irmãos
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