Portugal 4.0
- Revista Vidi #1
- 16 de mai. de 2019
- 6 min de leitura
Clusters portugueses incentivam startups e desenvolvem indústrias inovadoras.

De acordo com o coordenador do FGVnest – Núcleo de Estudos em Startups, Inovação, Venture Capital e Private Equity da Fundação Getulio Vargas (FGV), Caio Ramalho, clusters de inovação são elementos-chaves do crescimento e desenvolvimento econômico de uma região e, consequentemente, de um país, tais como Vale do
Silício e a Rota 128 nos Estados Unidos, Porto Digital no Brasil e Oeiras em Portugal. “Nessas áreas, temos um ambiente propício para o fomento e desenvolvimento da inovação e tecnologia por meio do fomento ao empeendedorismo, atração de investidores, incentivo às universidades, estímulo às empresas e apoio empreendedorismo, atração de investidores, incentivo às universidades, estímulo às empresas e apoio governamental. Oeiras, por exemplo, foi escolhida como sede de um novo hub tecnológico do Google no ano passado”, afirma o especialista.
Nas últimas décadas, Portugal sofreu um processo de “clusterização”, ou seja, investiu em ambientes de desenvolvimento do empreendedorismo, juntamente com o apoio da academia. Um bom exemplo é a Agência para a Competitividade e Inovação (IAPMEI), que com mais de 40 anos de existência, acompanhou essa evolução e assumiu um papel fundamental na assistência aos empresários e aos empreendedores.
Clusters de competitividade
Com o objetivo de estimular a consolidação dos clusters, a IAPMEI passou a apoiar estas redes colaborativas de intensa. A Agência foi o organismo responsável pela coordenação do processo de reconhecimento dos clusters portugueses, iniciativa que terminou em fevereiro de 2017 e reconheceu 20 clusters de vários setores. O
Regulamento de Reconhecimento dos Clusters de Competitividade institui que estes constituem “plataformas agregadoras de conhecimento e competências, constituídas por parcerias e redes que integram empresas, associações empresariais, entidades públicas e instituições de suporte relevantes, nomeadamente entidades não
empresariais do Sistema de Investigação e Inovação, que partilham uma visão estratégica comum, para, através da cooperação e da obtenção de economias de aglomeração, atingir níveis superiores de capacidade competitiva”.
Segundo a própria Agência, compete a ela articular com o Gabinete de Estratégia e Estudos (GEE) do Ministério da Economia, o devido acompanhamento, articulação e divulgação das informações dos clusters, visando a sua inserção em redes internacionais. Hoje, é raro uma cidade portuguesa que não tenha uma iniciativa
qualquer no universo das startups, valendo destacar inclusive a cidade de Braga, situada ao Norte de Portugal. Lá, existe um ótimo exemplo de integração entre o município, empresariado e o meio acadêmico, no caso a universidade do Minho, que proporciona uma atmosfera de valorização econômica do conhecimento. Braga mantém seu foco na criação de soluções revolucionárias para indústrias clássicas, onde se usa novas tecnologias para introduzir o conceito de Indústria 4.0 nos segmentos de calçado, vestuário, móveis e peças de carros.
O apoio e estímulo à inovação tem sido um dos drivers de crescimento do Portugal, que recebeu em novembro do ano passado, pelo 3o ano consecutivo, o Web Summit Lisboa, um dos maiores eventos de tecnologia e inovação do mundo. “Cada vez mais brasileiros têm participado deste importante evento de forma individual ou por meio grupos organizados, públicos e privados. Esta oxigenação de conhecimento e troca de experiências contribui para o processo de identificação sobre os fatores de sucesso de outros locais e inspiração para consequente adaptação desses fatores para a realidade de cada país”, aponta Caio Ramalho, que também é coordenador do CEC Direito para Startups e Empreendedores da FGV Direito Rio e professor do FGV Management e da Pós-Graduação da FGV Direito Rio.
O professor esclarece que embora os clusters de inovação sejam, via de regra, fenômenos locais, é possível (e necessário) pensar globalmente. E mais que isso, colaborar universalmente a partir de troca de conhecimento, estímulo bilateral ao capital humano, desenvolvimento conjunto de tecnologias, co-investimentos cross border, entre outros. “Acredito que no caso de Brasil e Portugal, em função de nossa relação histórica de colaboração e amizade, há ainda mais sinergias a serem exploradas no campo do empreendedorismo inovador de alto impacto de forma a beneficiar ambas as economias”, diz.
Capacitação
Esse próspero mercado de inovação em Portugal se justifica quando olhamos atentamente para o perfil de seus profissionais. O país tem uma força de trabalho com um alto nível de educação em áreas orientadas para os negócios, além de ser flexível, dedicada e produtiva. Portugal ocupa hoje a 40o posição mundial na “Qualidade das
Escolas de Gestão”, o 35 o lugar na “Disponibilidade de Cientistas e Engenheiros” e a 25 posição na “Qualidade das Instituições de Investigação Científica”.
A cidade de Aveiro, por exemplo, possui atualmente uma das melhores escolas de engenharia e informática do mundo, o que alimentou de forma decisiva seu cluster de tecnologia e sua indústria criativa. Outra região importante é Évora, onde é desenvolvido o cluster aeronáutico, muito por conta da presença da Embraer e sua produção de uma nova geração de aviões comerciais. Dezenas de empresas surgiram para a produzir e atender as demandas da empresa.
Novos cases
Facilitar a adoção tecnológica na indústria digital e robótica, além de propagar informação e conhecimento, facilitar instalações experimentais, revelar cases de sucesso e oferecer oportunidades de financiamento na região, estes são alguns dos objetivos que uma nova rede de inovação tem para oferecer às empresas, associações
industriais e organismos governamentais do norte de Portugal.
A Rede de Inovação Digital para a Indústria foi batizada de “iMan Norte Hub” e a coordenação pertence à PRODUTECH (Polo das Tecnologias de Produção), INESC TEC (Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência), UPTEC (Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto), CATIM (Centro de Apoio Tecnológico à Indústria Metalomecânica), CITEVE (Centro Tecnológico das Indústrias
Têxtil e do Vestuário de Portugal), CTCP (Centro Tecnológico do Calçado de Portugal) e CTCOR (Centro Tecnológico da Cortiça). A estratégia da Rede é desenvolver áreas ligadas a tecnologias de ponta, combinando a existência de competências e infraestruturas científicas, o que tende a fortalecer os negócios existentes e potencializar a criação
de novos projetos. Segundo o grupo, entre seus serviços principais estão a “elaboração de diagnósticos e roteiros tecnológicos, a procura de fornecedores e parceiros, a validação e demonstração de soluções inovadoras, estudos setoriais e tecnológicos, o apoio ao desenvolvimento de novos negócios e a interligação com fontes de financiamento”. Estes serviços serão fornecidos pelos parceiros do hub, como os centros de competências, incubadoras, associações, empresas fornecedoras de tecnologias de produção, incluindo sistemas de informação, equipamentos, automação, robótica e empresas prestadoras de serviços de consultoria e engenharia.
Em termos de impacto, o iMan Norte Hub irá acelerar a adoção de tecnologias nas empresas manufatureiras que operam na região Norte de Portugal.
CONHEÇA ALGUNS POLOS DE COMPETITIVIDADE E TECNOLOGIA E OS CLUSTERS DE NORTE A SUL DO PAÍS RECONHECIDOS PELO IAPMEI
Cluster das Indústrias da Fileira Florestal
Missão: Criar um centro nacional de competitividade, conhecimento, inovação e tecnologia, de vocação internacional com vista ao desenvolvimento da fileira florestal. www.aiff.pt
Cluster AEC - Arquitetura, Engenharia e Construção
Missão: Ser uma plataforma agregadora de conhecimento e de competências do setor da construção, promovendo a competitividade do tecido empresarial através do fomento de atividades de investigação.
AED Cluster
Missão: O AED Cluster é uma plataforma dinamizadora e agregadora dos setores da Aeronáutica, Espaço e Defesa para, a partir das sinergias criadas entre as competências dos seus associados, realizar atividades de investigação, desenvolvimento e inovação, formação, qualificação e internacionalização, contribuindo para a geração de riqueza, emprego e bem-estar dos associados e da sociedade.
Cluster da Plataforma Ferroviária Portuguesa
Missão: A Plataforma Ferroviária Portuguesa (PFP) deverá contribuir de forma ativa para o fortalecimento da cooperação entre todos os atores do setor ferroviário, definindo uma estratégia comum para o planeamento da investigação e inovação ferroviária, promovendo iniciativas e projetos conjuntos de investigação, desenvolvimento e inovação (IDI), dinamizando novos negócios e fomentando a internacionalização do setor.
Cluster da Vinha e do Vinho Missão: Promover e incentivar a sustentabilidade do setor vitivinícola português, investindo na cultura da cooperação para a investigação e desenvolvimento, para a disseminação e adoção de conhecimento que se traduza em inovação e agregação de valor para o vinho português nos mercados mundiais.
Cluster de Competitividade da Petroquímica, Química Industrial e Refinação
Missão: Desenvolvimento de estratégias e programas de eficiência coletiva que facilitem o desenvolvimento das cadeias de valor, a dinamização das empresas, com enfoque especial nas PME, o aumento da competitividade, a criação de uma cultura de
inovação e desenvolvimento de produtos de alto valor acrescentado e a integração sustentável das suas indústrias-alvo na sociedade portuguesa.
Cluster do Calçado e Moda Missão: Promover a qualificação e o rejuvenescimento do cluster, reforçando os laços entre os atuais membros e atraindo novas empresas e instituições, dinamizar ações de eficiência coletiva que estimulem a inovação e a internacionalização e promover a imagem do cluster, dos seus membros e do calçado português.
Cluster do Mar Português Missão: Reforçar dinâmicas de cooperação estratégica entre empresas, centros de IDT, organismos da Administração Pública e outras associações, além de promover a competitividade das principais cadeias de valor que utilizam o Mar e os recursos marinhos como elementos centrais da sua atividade, de forma a contribuir para o crescimento económico, para as exportações e para o emprego.
Cluster Habitat Sustentável Missão: Desenvolver uma dinâmica por meio da inovação e internacionalização das empresas, reforçando a sua competitividade, mobilizando um conjunto de atores de vários setores para a criação de valor.
www.centrohabitat.net
PRODUTECH - Polo das Tecnologias de Produção Missão: Robustecer a eficiência coletiva e a inteligência estratégica ao serviço da expansão, do alargamento e da qualificação da Fileira Portuguesa das Tecnologias de Produção (FTP) em áreas fortemente dinâmicas e inovadoras, bem como desenvolver e promover a sua oferta e a sua imagem a nível nacional e internacional.
Health Cluster Portugal
Missão: O Health Cluster Portugal assume como missão tornar Portugal um player competitivo na investigação, desenvolvimento, fabricação e comercialização de produtos e serviços associados à saúde, em nichos de mercado e de tecnologia selecionados, tendo como alvo os mais exigentes e mais relevantes mercados internacionais, num quadro de reconhecimento da excelência, do seu nível tecnológico, e das suas competências e capacidades no domínio da inovação.
www.healthportugal.com
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